precisa ficar pelada a novela toda?

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A minha procura por inspiração

       Realmente, por definição percebo as palavras como enigmas,  oráculos, elas dizem o querem dizer, mas há sempre o adjetivo e intenção e a interpretação que definirão o resumo da situação. Complicadinho demais!
      Procurei por imagens que me inspirassem, e não achei. Saca? Inspiração no sentido de ar para renovação. Quero um olhar diferente ou talvez refletir furta cor, centelha de ideia, clareza no pensar, ar no pulmão e sem tremedeiras, talvez breve taquicardia. E  a visão clara, límpida pronta para ação. Taí a ação como diria Dom Quichote, a ação é a única coisa que está sobre seu controle, mais nada, é o que nos diferencia, tudo depende de agir ou não. Erga a coluna e inspire, encha-se de ar. Eu vou em direção a minha inspiração, a minha ação.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Cântico Negro


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!




Cântico negro
José Régio

sábado, 2 de abril de 2011

inadequado

Ontem estava seco, a dois dias não escrevo. E assim, não me salvo.

A trajetória de uma consciência

-Todos os dias, num local a beira do nada, deserto, indescritível porque não se parece com lugar algum, qualquer lugar, quem sabe dentro de você? Só precisamos entender a passagem do tempo, é como estar no mesmo corpo por tempos infindos. Conhece esta sensação?
E sem saber o que representa exatamente o lado de fora. Não estou cabendo nem em minha roupas, irremediavelmente sem estilo. Nu. O rei está nu.
Esperamos, mesmo que nos debatendo em atitudes e ações sem sentido, este é o nosso disfarce social. E nossa função, dar sentido. E aí vai a apelação da modernidade, da extrema falta de criatividade,  perversão e inversão exigido pela mater contemporaneidade.
Esperamos Godot.
Nada acontece, se não a partir da criação, da invenção e da ilusão.
Ninguém chega.
Ninguém parte.
A morte também é uma ilusão, desenhada e perfeita.
Não há onde ir. Tu não te moves de ti!
Meditação? talvez.
Abstração? talvez.
E Godot? Deus? que nunca saberemos, e que na verdade não importa saber quem é, se é? 
O que significa tudo isto? Acreditar chorando?
Se atirar sem para - quedas em abismos de fé. Fé naquilo que não se vê. No intangível viver.
E "voilà"  eis a condição humana! Acreditar  naquilo que não se sabe, não se vê.
Onde estou? porque estou? onde isso vai dar? Jamais saberemos.
Velho tema

  "Só a leve esperança em toda a vida.
Disfarça a pena de viver, mais nada...
E nem é mais a existência, resumida,
que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
sonho que a traz ansiosa e embevecida.
É uma hora feliz, sempre adiada,
que não chega nunca em toda a vida.
E essa felicidade que supomos,
árvore milagrosa que sonhamos,
toda areada de dourados pomos,
existe sim, mas não a alcançamos.
Pois está sempre apenas onde a pomos.
E nunca a pomos onde nós estamos."


Esta resposta nunca virá, para preencher nossa desesperada expectativa de tudo, para iludir o grande tédio dos dias vazios e sempre iguais. Experimente você não reinventar o que fazer.? Nada, não é mesmo?
A questão é, somos dois, somos vários e somos um, e isso passa ser tudo que se tem. Nos resta nos debater, falar ou pensar, sim, à mim não foi dada a chance de não pensar, você tem e senha? Resta falar um com outro até exaustão, mesmo sem ter nada a dizer: assim , ao menos dão-nos a impressaõ de existir.
Somos enfim espelhos de uma condição humana que se degradou até seu limite máximo. A televisão, a informação, a profissão e os relacionamentos. A radioatividade do que se come no olhar, ou no ar. As informações contraditórias e insençante massificação de informações irrelevantes. Passaria o dia aqui citando nomes, manchetes e programas. Passaria o dia na inutilidade. Sei fazer isso. Chocados?
Aqui a minha natureza se manifesta como nos dias de hoje, irremediável força destruidora. Assim, sóis e perdidos começamos a nos sentir minúsculo, diante de um universo cuja ordem não conseguimos captar, ordem esta que reside no caos. Então de forma angustiante nos debatemos na lama do vazio da vida que não oferece explicação.
 Julgar este texto de acordo com padrões clássicos, pré estabelecido é tarefa impossível. Na verdade, não possui um enredo no sentido comum da palavra: trato antes de tudo de uma exposição onde introduzo alguns temas fundamentais da minha existência. Quer dividir comigo suas angustias? Duvido! Necessitaria de abdicar da vaidade, do disfarce social, da máscara.
Lidar com o desejo, e a sem sentido repulsão total, à carência do afeto, a resposta e nessecidade do outro, o medo, a solidão, o vazio da condição humana e uma vaga esperança de salvação determinada aqui pela espera.
 A monotonia nunca se altera pela sua própria natureza de ser monotonia, nem mesmo quando entram e saem de nossas vidas as pessoas que tem como único próposito e objetivo em ir e vir de nossas vidas, a distração. O vazio quase nunca é alterado, também é essa sua natureza e condição. E pasmem não há como acrescentar nada de novo à situação de espera incansável que se chama viver.

 -Aqui no mundo o mais importante é passar o tempo:
e eu me tornei uma pessoa difícil para um mundo que não esta acostumado a pensar com profundidade sobre a condição humana e o significado da existência.