A trajetória de uma consciência
-Todos os dias, num local a beira do nada, deserto, indescritível porque não se parece com lugar algum, qualquer lugar, quem sabe dentro de você? Só precisamos entender a passagem do tempo, é como estar no mesmo corpo por tempos infindos. Conhece esta sensação?
E sem saber o que representa exatamente o lado de fora. Não estou cabendo nem em minha roupas, irremediavelmente sem estilo. Nu. O rei está nu.
Esperamos, mesmo que nos debatendo em atitudes e ações sem sentido, este é o nosso disfarce social. E nossa função, dar sentido. E aí vai a apelação da modernidade, da extrema falta de criatividade, perversão e inversão exigido pela mater contemporaneidade.
Esperamos Godot.
Nada acontece, se não a partir da criação, da invenção e da ilusão.
Ninguém chega.
Ninguém parte.
A morte também é uma ilusão, desenhada e perfeita.
Não há onde ir. Tu não te moves de ti!
Meditação? talvez.
Abstração? talvez.
E Godot? Deus? que nunca saberemos, e que na verdade não importa saber quem é, se é?
O que significa tudo isto? Acreditar chorando?
Se atirar sem para - quedas em abismos de fé. Fé naquilo que não se vê. No intangível viver.
E "voilà" eis a condição humana! Acreditar naquilo que não se sabe, não se vê.
Onde estou? porque estou? onde isso vai dar? Jamais saberemos.

"Só a leve esperança em toda a vida.
Disfarça a pena de viver, mais nada...
E nem é mais a existência, resumida,
que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
sonho que a traz ansiosa e embevecida.
É uma hora feliz, sempre adiada,
que não chega nunca em toda a vida.
E essa felicidade que supomos,
árvore milagrosa que sonhamos,
toda areada de dourados pomos,
existe sim, mas não a alcançamos.
Pois está sempre apenas onde a pomos.
E nunca a pomos onde nós estamos."
Esta resposta nunca virá, para preencher nossa desesperada expectativa de tudo, para iludir o grande tédio dos dias vazios e sempre iguais. Experimente você não reinventar o que fazer.? Nada, não é mesmo?
A questão é, somos dois, somos vários e somos um, e isso passa ser tudo que se tem. Nos resta nos debater, falar ou pensar, sim, à mim não foi dada a chance de não pensar, você tem e senha? Resta falar um com outro até exaustão, mesmo sem ter nada a dizer: assim , ao menos dão-nos a impressaõ de existir.
Somos enfim espelhos de uma condição humana que se degradou até seu limite máximo. A televisão, a informação, a profissão e os relacionamentos. A radioatividade do que se come no olhar, ou no ar. As informações contraditórias e insençante massificação de informações irrelevantes. Passaria o dia aqui citando nomes, manchetes e programas. Passaria o dia na inutilidade. Sei fazer isso. Chocados?
Aqui a minha natureza se manifesta como nos dias de hoje, irremediável força destruidora. Assim, sóis e perdidos começamos a nos sentir minúsculo, diante de um universo cuja ordem não conseguimos captar, ordem esta que reside no caos. Então de forma angustiante nos debatemos na lama do vazio da vida que não oferece explicação.
Julgar este texto de acordo com padrões clássicos, pré estabelecido é tarefa impossível. Na verdade, não possui um enredo no sentido comum da palavra: trato antes de tudo de uma exposição onde introduzo alguns temas fundamentais da minha existência. Quer dividir comigo suas angustias? Duvido! Necessitaria de abdicar da vaidade, do disfarce social, da máscara.
Lidar com o desejo, e a sem sentido repulsão total, à carência do afeto, a resposta e nessecidade do outro, o medo, a solidão, o vazio da condição humana e uma vaga esperança de salvação determinada aqui pela espera.
A monotonia nunca se altera pela sua própria natureza de ser monotonia, nem mesmo quando entram e saem de nossas vidas as pessoas que tem como único próposito e objetivo em ir e vir de nossas vidas, a distração. O vazio quase nunca é alterado, também é essa sua natureza e condição. E pasmem não há como acrescentar nada de novo à situação de espera incansável que se chama viver.
-Aqui no mundo o mais importante é passar o tempo:
e eu me tornei uma pessoa difícil para um mundo que não esta acostumado a pensar com profundidade sobre a condição humana e o significado da existência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário